Campos Altos perde ícone da história do município

por Rejane Oliveira publicado 05/09/2019 09h59, última modificação 05/09/2019 09h59
Francisco Sebastião Ferreira “Chico Raimundo”, importante personalidade política do município de Campos Altos, faleceu no dia 28 de agosto de 2019, aos 100 de idade, e deixa grande exemplo de honradez, coragem, luta e também de cidadania. Sua experiência parlamentar em um curto período de tempo, se destacou com iniciativas importantes em favor de uma comunidade que iniciava a construção de uma história.

 

Sua história

Sr. Chico Raimundo, como é conhecido, nasceu em Formiga/MG no dia 20 de janeiro de 1919, o 8º dos 9 filhos do Sr. José Martins Ferreira e Srª.Similiana Cândida Cassiana. Aos 2 anos e meio de idade perdeu sua mãe e foi morar na cidade de Candeias. No ano de 1930 quando já havia completado 11 anos, Sr. Chico veio para zona rural nos veados, atual fazenda Bela Vista, próximo ao Serra de Urubu, primeiro nome do município de Campos Altos. Seu pai havia trocado a fazenda de Candeias por outra em Campos Altos, onde casou novamente e teve mais 6 filhos, somando 15 filhos dos quais estão vivos somente o Sr. Chico Raimundo e sua irmã caçula Mariinha (viúva do Xandico) de 75 anos, filha de sua madrasta.

Sua vida de adolescente foi de muito sofrimento, passou necessidade com falta de alimento e vestuário; trabalhava na roça, (fazia todo serviço pesado, retireiro, apanhava café, roçava a terra), foi também pajem de crianças, cacheiro, chapa.

Sr. Chico tinha muita vontade de estudar, mas não havia escola aqui na época. Quando trabalhou na fazenda do Sr. Francisco Falco, sua filha Maria do Carmo, o ensinou à noite no prazo de três meses, as primeiras letras. Com dificuldade lê e escreve.

Em 1939, Sr. Chico perdeu seu pai. Sua madrasta quando já com muita idade escolheu a casa do enteado para viver. Sr. Chico cuidou da madrasta até seus últimos dias de vida.

Ainda rapaz, foi para a cidade de Cristais trabalhar com seu irmão na roça. E andando pelo garimpo de cristal, Sr. Chico achou uma pedrinha de 50gr. e a vendeu por 10 mil-réis. Foi quando decidiu garimpar no local e ganhou em pedra e negócios 10 mil conto de réis. Voltou para Campos Altos e montou uma oficina mecânica, mas o mercado não foi lucrativo e Sr. Chico começou a negociar comprando e vendendo lavouras de café. Foi aí o início de sua vida como fazendeiro, começando com 7 mil pés de café.

No ano de 1948, Sr. Chico guarda na memória até o dia, 3 de outubro, em uma festa do Rosário em Campos Altos, conheceu uma linda mocinha de 17 anos. E esta o conquistou, pensou consigo mesmo: “esta é a outra metade que procuro”. Essa mocinha é hoje sua esposa Dona Margarida, que no início de 2014 completaram com a graça de Deus 65 anos de casamento, do qual são muito felizes, e tiveram 7 filhos (4 mulheres e 3 homens), todos cursaram curso superior; e o mais velho, José Maria Ferreira faleceu aos 42 anos de idade deixando muita saudade a toda família. A família cresceu bastante e hoje já são quase 50 pessoas, pois além dos filhos Sr. Chico e Dona Margarida possuem 18 netos (14 casados), 15 bisnetos, 4 genros e 3 noras.

Sr. Chico Raimundo participou ativamente do desenvolvimento do município de Campos Altos. Foi vereador na legislatura de 1955 a 1959 e Presidente da Câmara nos anos 1955 e 1956, nesta época os vereadores não eram assalariados.

Como vereador, Sr. Chico:

  • Foi autor do Projeto de Lei de fundação da Banda Musical Lira Santo Antônio da qual tem muito orgulho, deixando-o grato que somente isto já justificava seu mandato; lei sancionada pelo saudoso Sr. Wilson Falco, prefeito da época, no dia 20 de junho de 1956.
  • Teve a ideia de construir a estrada que liga o município ao distrito de São Jerônimo dos Poções, pois o acesso ao distrito era somente pela fazenda Andorinhas, hoje o assentamento Santa Cecília, estrada construída na administração do Prefeito Sr. Wilson Falco. Sr. Chico fez seu primeiro discurso na inauguração da estrada e contou com a ajuda de Dona Didi para escrevê-lo.
  • Ajudou a trazer e a construir com o apoio do Pe. Rui Nunes Vale o Educandário Dom Alexandre.
  • Ampliou a igreja Matriz de Sta. Terezinha com a iniciativa e ideia do Pe. Clemente de Maleto.
  • Construiu a capelinha (pequena igreja no Santuário), sua ideia era construí-la em sua fazenda, porém seguiu o conselho do Pe. Rui em faze-la no alto da cidade pois futuramente poderia se tornar um santuário; como assim se tornou, e onde em janeiro de 2010 Sr. Chico doou para o Santuário a imagem de N.S. Aparecida, uma das maiores do mundo.
  • Doou 2 lotes para a construção da igreja N.S. do Rosário, no bairro N.S. Aparecida.
  • Sr. Chico investia seu próprio dinheiro no crescimento da cidade; canalizou a água que descia da matinha até a estrada de ferro.
  • Ajudou na construção da rede de esgoto da igreja Matriz até à Santa Casa de Misericórdia; e colocou água da Rua Palestina até ao asilo, e doou seu 1º salário da aposentadoria para a construção do pavilhão da Vila Vicentina.
  • A primeira casinha da Vila Vicentina foi custeada por seu sogro, Salatiel. Preocupado com a estadia dos idosos, Sr. Chico colocou também água no asilo.
  • Fez a estrada da Capoeira Funda que ligava o município ao trevo da estalagem na administração do Sr. Wilson Falco que juntos lutaram pelo desenvolvimento da cidade.

Sr. Chico empenhou para ver este lugar como uma cidade, e quando foi prefeito no ano de 1973 a 1976:

  • Encanou a água da nascente até a caixa d’água; reservatório.
  • Trouxe a luz elétrica para o município no dia 13 de dezembro de 1975.
  • Adquiriu o terreno e realizou a obra de construção da rodoviária e também da delegacia.
  • Sua meta era focar na Educação e nas estradas que davam acesso ao município; deixou planejado e inclusive com a verba no banco para a reforma do grupo Deiró Borges, ampliação de 4 salas no ginásio Pe. Clemente de Maleto, e construção das escolas Elizena Leão, Joaquim Domingos da Silva e José Cordeiro de Campos.
  • Quadra esportiva com iluminação no Educandário Dom Alexandre e Ginásio Pe. Clemente de Maleto.
  • Nas Guaritas, zona rural, também construiu escolas.
  • Construiu 300 mata-burros de trilho e cascalhou as estradas mestre, onde gastou 13 mil caminhões de cascalho.
  • Adquiriu grande parte do terreno do cemitério.
  • Sancionou a lei para que todos moradores construísse os passeios a frente de suas casas e obrigou para que fosse feito.
  • Construiu 4 pontes: da Prata, Uruburetama, Olho do Sol e Jararaca, e também reformou a ponte que fazia divisa do município e o distrito de Pratinha, perto da fazenda Arcos.

Como prefeito, Sr. Chico não realizou ainda mais devido ao baixo orçamento da Prefeitura na época, e vale a pena lembrar que o prefeito também não tinha salário, apenas uma pequena ajuda de custo de 200 mil réis quando o salário na época era de 220 mil réis, que o Sr. Chico não recebia, repassava para o asilo.

Construiu com a ajuda dos munícipes: o Clube Social, organizou a Cooperativa Agropecuária de Campos Altos e Sindicato dos Produtores rurais, onde posteriormente com o apoio do Prefeito Dr. Vitor e dos produtores rurais construíram o Parque de exposição, que leva o nome do falecido filho do Sr. Chico, José Maria Ferreira.

Como Presidente do Sindicato rural dos Produtores Rurais e membro da Federação da Agricultura de Minas Gerais – FAEMG, foi convidado juntamente com o Sr. Geraldo Ramalho e Sr. Geraldo Guimarães para o Congresso Nacional de Café em Poços de Calda. Na época Sr. Chico pediu ao retratista Afonso Camilo para que tirasse uma foto 60/40cm da lavoura de café do Sr. Geraldo Guimarães a qual estava bem carregada de café maduro. Mandaram fazer um grande painel que foi colocado na recepção do evento com a frase “Campos Altos, terra do café”. Lá aprenderam com cafeicultores paulistas, japoneses e paranaenses a plantar café no cerrado, pois aqui em Campos Altos só se plantava café nas ladeiras e encostas. E assim começou o plantio de café no cerrado e se espalhou para todo alto Paranaíba.

Com esse fluxo de cafeicultor veio o desenvolvimento da região e Campos Altos está incluído como sendo um dos municípios em maior produtividade de café de Minas Gerais.

  • Foi tesoureiro na construção da Santa Casa, auxiliando o diretor da época, o Sr. Geraldo Guimarães.
  • 1º Presidente do Mobral (Educação para adultos) e entregou 700 certificados, dos quais muitos alunos prosseguiram até a faculdade.
  • Foi um dos fundadores do BANCOOB, idealizado pelo saudoso Heron Reges de Carvalho.
  • Foi também Juiz de Paz durante 12 anos, Comissário de menor (hoje conselheiro tutelar) e Delegado por 8 meses, todos seus cargos públicos e privados foram voluntários.

Sr. Chico Raimundo faz parte da história de Campos Altos, ajudou a construir esta cidade, com muito orgulho realizou todas essas obras pensando em melhorias para o lugar e para o povo, e ressalta: “Em Campos Altos não existe pobreza miserável, não possui favela e é comparada proporcionalmente com outras grandes cidades pela quantidade de veículos. Possui quatro agências bancárias, oito supermercados, quatro lojas de eletrodomésticos, além de outras. Isto me deixa com muito orgulho, por chegar onde chegamos e vamos continuar crescendo”.

Hoje aos 95 anos de idade com toda vitalidade, Sr. Chico um dos fundadores do município de Campos Altos deseja chegar aos 100 anos e com a graça de Deus, continuará a fazer pelo desenvolvimento do município de Campos Altos e pela qualidade de vida de seus moradores. Sr. Chico diz que o homem deve ser lembrado na terra pelas coisas boas que pratica e guarda consigo a frase de Mahatma Gandhi, “Quem não vive para servir, não serve para viver”.

 *Escrito por Rejane Oliveira, responsável pelo Cerimonial da Casa de Leis, em entrevista com Sr. Chico Raimundo para comemoração aos 66 anos do Legislativo Campos-Altense em junho de 2014, da qual Sr. Chico foi homenageado como vereador da 3ª Legislatura da Câmara Municipal 1955/1959 e como prefeito da 8ª Administração do município em 1973/1976.


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